Continuando a maratona de Leitura da
Bíblia, falarei um pouco de Levítico. Segundo Myer Perlman (1997, p. 27), este
livro leva este nome “pelo fato de ser um registro de leis referentes aos
levitas e seu serviço”. Levítico compõem-se com orientações de como se
aproximar de Deus através da adoração e manter esta comunhão. Segundo Myer
Perlman (1997), o acesso a Deus tinha como exigência a santidade do adorador o
qual deveria ser exemplo e dedicar-se nesta função através de sua consagração
diária. Atualmente podemos associar esta função como um ofício constituído por
princípios, mas não só apenas éticos e imbuído de preceitos legais para seguir, mas principalmente espirituais.
Convém, é claro, ressaltar que, a
tônica deste livro é eminentemente espiritual. São práticas e costumes que
deveriam ser realizados por pessoas portadoras de um caráter ilibado. Estas
deveriam portar-se de um genuíno sentimento de amor à obra e serem munidas do
compromisso de intermediar a relação entre Deus e o povo. Atualmente,
encontramos pastores, padres, rabinos, conselheiros, pessoas que exercem funções
equivalentes a estas. Pode se dizer que há pessoas que trabalham para Deus
abençoando outras, ou, que trabalham para outros dedicando-se em trabalhar para
Deus. O objetivo é servir a Deus. E neste ponto compreendemos onde se insere as
ofertas.
A maior oferta que alguém pode dispor
para Deus é a própria vida em atitudes sinceras de gratidão em resposta à sua
graça. Esta é a oferta que agrada a Deus: um coração obediente. A obediência
supera os desafios de milhares de sacrifícios, em especial porque um único
sacrifício espelhou o exemplo máximo de obediência numa manifestação completa do
amor de Deus.
É preciso entender o significado de
sacrifício neste contexto. Em Gênesis aprendemos que o fato de Adão e Eva terem
pecado, que esta ofensa provocou a separação entre o ser humano e Deus. Daí em
diante todas as ações do homem se tornaram suscetíveis à inclinação derivada
deste mal.
Assim, afastado da comunhão com o
Pai-Nosso torna-se muito mais difícil compreender e viver a vida. Talvez, a
ideia de uma mistura de saudade e culpa possa aproximar-nos dos sentimentos de
Adão e Eva. Ao mesmo tempo, que queriam voltar para casa, sentiam vergonha pelo
que fizeram. Antes do pecado, o ser humano podia desfrutar de um ambiente de
liberdade proporcionado pela presença de Deus, sem o inconveniente de quaisquer
bloqueios. Com a interferência do pecado houve uma contaminação generalizada pela
maldade decorrente deste fato. O pecado, assim, se manifestou infectando o ser
humano provocando feridas fétidas em sua inteligência. O que acarretou uma
série de consequências que desencadearam num processo de separação. A
desobediência, desta forma, indica-se como uma das principais marcas do mal.
Mas graças a Deus, porque onde o pecado se apresenta como doença; em Jesus
encontramos a cura.
Tente imaginar uma casa limpa. Sua mãe
tem todo o trabalho para deixar tudo um brinco, ai você chega todo lamacento,
fedendo e suado entrando pela casa e vai até a cozinha e sem qualquer
consideração mete as mãos sujas no pode de biscoitos e só depois de saciar sua
vontade se dá conta da burrice. Tarde de mais. Já está tudo cagado. Se você ama
seus pais, sentirá vergonha, mas não adiantará nada tentar limpar o que você
sujou se não tomar um bom banho antes. Assim é o pecado, uma bosta impregnada na
inteligência que quanto mais tentar andar com ele pela casa só torna tudo mais
sujo e fedorento.
Nesta ilustração com o pecado a casa
somos nós. Mas há um elemento necessário de ser mencionado. O pecado não entrou
sozinho na casa. Houve um ladrão que forçou e induziu sua entrada. Este ladrão
sugeriu que abríssemos a porta da nossa vontade para sugestão da desobediência
a Deus. Inicialmente ele bateu à porta se apresentando como um vendedor e
ofereceu mundos e fundos, só que enganou a gente trocando a ideia da doçura da
obediência pelo amargo da desobediência. Uma vez a porta aberta aos seus conselhos ele
nos enganou e jogou o seu bichinho lá dentro. Uma ideia pervertida cheia do
veneno da mentira. Dentro da casa o bichinho indomesticável começou as suas
maldades. O pecado continua sendo um tipo de verme-bosta fedorento e purulento.
Uma vez dentro da casa vai comendo as paredes e defecando sua fedentina. Este
bicho comedor de carne se alimente das más atitudes, e de toda intenção contrária
à graça de Deus. Por isso, o sacrifício se fez necessário. Só através de um ato
deliberado pela vontade de entrega a Deus esmagaria na carne este animalzinho.
Jesus neste caso atuou em nosso favor e esmagou o pecado com seu exemplo de
vida. E sua vida foi a única expressão suficiente de uma oferta capaz de suprir
todas às exigências necessárias para aniquilar o pecado.
Quando abrimos nossos corações para Jesus, estamos na verdade abrindo a porta de uma casa suja para ele entrar e limpar, Ele é o Único que conhece todos os cômodos e os lugares em nossa mente em que àquela coisa horrível posse se alojar. Com o pecado Jesus não brinca; pisa, esmaga e joga para fora de nossas vidas.
A palavra sacrifício aqui não deve ser
confundida com oferendas no sentido de barganha. Na prática não há nada que
possamos oferecer a Deus que Ele já não possua. O que significaria, então, este
sacrifício. Penso que podemos aproximar o sentido da noção de uma entrega diária
para retornar aquela primeira comunhão. Se antes o acesso gratuito à presença
do Eterno era óbvia; agora, esta comunicação sofreu sérias interferências e uma
reconexão se fez necessária por um sacrifício que supriria a todos os demais, o
sacrifício de Jesus na Cruz do Calvário. Penso que Levítico propõe um espelho
deste ato. Apresenta um reflexo do que seria a ação perfeita de Cristo como
suficiente para envolver com seu ato a manifestação do amor de Deus para reatar
este laço eterno e restituir à família divina todo aquele que se encontrar
perdido neste ato de desobediência.
Por último podemos pensar que as
ofertas apresentam um caráter de vínculo com o ofertante. Aquele que oferece
algo; oferece do que tem a posse; oferece porque pode dispor deste algo. Em
Levítico encontramos o exemplo de que o sacrifício deveria ser um oferta
pacífica e sem defeito. E aqui encontramos o motivo porque a oferta de Cristo é suficiente para suprir todas as demais no ato de liberação do ser humano do pecado. Jesus Cristo é o único que se apresentou sem pecado diante de Deus. Seu ato abalou as estruturas da humanidade porque de uma vez por todas Ele quebra com a escravidão do pecado. Jesus sana todos os vícios e mazelas que trazíamos. Sua apresentação é ímpar, única, e mais é clara e pura. E principalmente é uma oferta voluntária de amor por todos nós.
Lembro de um trabalho voluntário em
que participava com um grupo na casa de um portador de necessidades especiais.
Era um jovem que morava sozinho e contava com a ajuda dos irmãos da igreja. Ele
andava e falava com extrema dificuldade. Sua condição era de nascença e sua
deficiência física comprometia sua coordenação motora de modo que um simples
gesto de comer um pedaço de pão ou beber um gole de café requeriam grandes
esforços dele. Perdoe-me a indiscrição, mas para melhor aproximar o leitor da
cena, peço licença para descrever: “tanto suas pernas, pés, mãos, braços assim
como sua expressão facial eram deficientes”. No entanto, ele manifestou uma
compreensão profunda de um sentimento de aceitação ao invés de sentir-se um
rejeitado social. Disse: ‘sabe eu orava pedindo a Deus para me dar pernas
novas, mas um dia eu entendi que de outra maneira eu teria corrido para longe
d’Ele. Deus me fez assim, então, é assim que eu me entrego pra Ele’. Este homem
estava aprendendo a aceitar a si mesmo da mesma forma como Deus o aceitava.
Este exemplo me faz pensar que a perfeição que Deus quer não está em ser
famoso, ter carro caro do ano, ser bonito ou coisas do tipo que só evocam aparências.
Basta um coração contrito disposto a entregar-se a Jesus. O motivo é que tanto este rapaz quanto a mim carecemos da Glória de Deus. E porque entregamos nossas vidas para Jesus experimentamos de sua Graça.
Estava ali para ofertar uma obra de
caridade, e compartilhei de uma lição de vida. A resposta deste homem não sai
da minha mente. Ele não se abatia em razão da sua condição deficiente e fazia questão
de andar quilômetros para ir caminhado para Igreja, às vezes ele aceitava
carona, mas sua disposição não estava na aparência, precisávamos nos aproximar
e conhecê-lo para quebrar com nosso preconceito e enxergar que o que o tornava completo
para Deus era ele mesmo como pessoa. Somos completos, quando pensamos que somos
não apenas de aparência física, mas intelectual, emocional e espiritual também.
Escrito por: Gilberto
Martins.
Para reflexão:
"7 Cada um dê
conforme determinou em seu coração, não com pesar ou por obrigação, pois Deus
ama quem dá com alegria.
8 E Deus é
poderoso para fazer que lhes seja acrescentada toda a graça, para que em todas
as coisas, em todo o tempo, tendo tudo o que é necessário, vocês transbordem em
toda boa obra.
9 Como está
escrito: "Distribuiu, deu os seus bens aos necessitados; a sua justiça
dura para sempre".
10 Aquele que supre a semente ao que semeia e o pão
ao que come, também lhes suprirá e aumentará a semente e fará crescer os frutos
da sua justiça." (II Coríntios 9:7-10).
Referência:
Disponível em: < https://www.bibliaonline.com.br/nvi >
Pearlman, Myer. Através da Bíblia
livro por livro. Tradução: N. Lawrence Olson. Impressão 19, São Paulo: Editora
Vida, 1997. (Categoria: Comentário Bíblico/Título original: Through the Bible
Book by Book, por Gospel Publishing House, 1935; por Editora Vida 1977).
Nenhum comentário:
Postar um comentário