domingo, 24 de abril de 2016

Deuterômio: Uma releitura da Lei


Releituras são necessárias. Retornar a um livro pelo prazer de lembrar sua história é surpreendente, pois não apenas recobra episódios já vistos, mas revelam passagens ocultas pela falta de atenção ou intensões não captadas pela interpretação. É a sensação de captar um novo elemento. É um treinamento para o coração polir sentimentos que já se tinham por lapidados. O que por esta percepção se revela atrativo em abrir nossos horizontes para revisões em nosso próprio comportamento.

Na prática deveríamos ter o hábito de lembrar das coisas feitas durante o dia e refletir sobre seus efeitos. Reler não por que esqueceu, mas exatamente para não esquecer; e mais, acentuar o que deve de fato ser guardado e praticado; descartado ou mesmo reprocessar o que requer revisões. Às vezes este gesto revelará, inclusive, a necessidade de voltar para alguém e pedir perdão que, por sinal, é uma excelente releitura para os relacionamentos.

Deuteronômio propõe este tipo de hábito. Incentiva as releituras da vida. Conforme observa Myer Perlman (1997, p. 37), este livro “origina-se de duas palavras gregas que significam ‘segunda lei’, e chama-se assim, pelo fato de registrar a repetição das lei dada no Sinai”.  Esta chamada é sensacional. Se entendermos que a Lei é uma orientação não apenas comportamental sob aspectos que devem nortear nossas práticas com o objetivo de fomentar princípios de vida para se viver bem em sociedade, então, esta deve ser a máxima da supremacia para ser capaz de seguir uma lei, RELER com sentido de REVIVER.

Aqui, o sentido da releitura não recai apenas sobre a forma de quando se volta para um livro para lê-lo mais de uma vez. Esta ideia busca traduzir o conceito de toda captação de mensagens e significados sujeitos aos nossos sentidos. Ouvir, olhar, tocar, cheirar, são formas de apropriação periféricas de nosso organismo, mas todas passam pelo pensamento. Ainda que não tenhamos habilidades desenvolvidas para detectar com maior clareza determinados fenômenos que ocorrem ao nosso redor, não significa que não ocorram. Assim, uma volta reflexiva ao ponto, ao assunto, ao fato, pode auxiliar melhor no entendimento de determinados porquês.

Basta compararmos as pessoas no exercício de algumas atividades, como por exemplo, um professor, cozinheiro, um advogado ou juiz, um músico, uma dona de casa, ou quaisquer outras você se encaixe. Observe que, de certa forma, todos aprendem seus ofícios pelas releituras. Como assim? É mais fácil pensar que só um professor ou advogado, precisam voltar à letra fria de um livro para se apropriar da ideia de seu conteúdo para rever suas ações e aplicar suas decisões. Na prática, o costume; o hábito de repetir determinadas ações todos os dias são estas espécies de releituras. Talvez não sejam tão evidentes quanto se abrir um livro para relê-lo, mas estão tão presentes quanto àquela fórmula. Um cozinheiro precisa todos os dias reler suas receitas, mas já fez tantas vezes que não se dá conta de que o conteúdo do prato feito, antes de pronto passou pelo seu pensamento.

Desta forma, esta ideia soa bem interessante e percebemos que vale a pena assumir que às nossas ações precisão diariamente de uma revisão. Tão bom quanto elaborar um delicioso prato de arroz, feijão e ovo; é ser capaz de apreciar seu aroma, perceber os condimentos incrementados para transformá-lo numa iguaria e ter o prazer de degusta-lo. No entanto, mais evidente será esta necessidade se você estiver com fome. Sem fome, não há dinheiro que possa suprir a vontade de um ser humano se alimentar, pois claro está, tratar-se de um capricho de criança mimada que ainda não aprendeu a valorizar o que é essencial.

Escrito por: Gilberto Martins.

 Para reflexão:
"1 Bem-aventurados os que trilham com integriddade o seu caminho, os que andam na lei do Senhor!

2 Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos, que o buscam de todo coração,

3 que não praticam iniguidade, mas andam nos caminhos dele!

4 Tu ordenastes os teus preceitos , para que fossem diligentemente observados.
5 Oxalá sejam os meus caminhos dirigidos de maneira que eu observe os teus estatutos!
6 Então ficarei confundido, atentando para todos os teus mandamentos.
7 Louvar-te-ei com retidão de coração, quando tiver aprendido as tuas retas ordenanças.
8 Observarei os teus estatutos; não me desampares totalmente!
9 Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o de acordo com a tua palavra.
10 De todo o meu coração tenho te buscado; não me deixes desviar dos teus mandamentos.
11 Escondi a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti." (Salmos 119:1-11).

Referência:


Pearlman, Myer. Através da Bíblia livro por livro. Tradução: N. Lawrence Olson. Impressão 19, São Paulo: Editora Vida, 1997. (Categoria: Comentário Bíblico/Título original: Through the Bible Book by Book, por Gospel Publishing House, 1935; por Editora Vida 1977).

2 comentários:

  1. Muito bem escrito, bastante didática tua observação sobre o livro. Parabéns pelo blog!

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  2. Olá, Claudia. Obrigado. Que bom que você gostou.

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